sexta-feira, 11 de abril de 2014

A bordo - relatos de uma viajante em início de estrada (Parte I)


Eu morria de medo de avião. Uma sensação que aumentava só de me imaginar dentro de um lugar do qual não poderia sair quando quisesse. Que não poderia “puxar a cordinha” para que parasse no meu ponto de interesse. Aquilo me torturava, mesmo antes de sequer por os pés em um deles. Para mim era uma claustrofobia que não saberia lidar. Nem mesmo sei de onde surgiu esse pânico de lugares fechados. Sei que de uma hora para outra os elevadores tornaram-se os piores lugares.

A primeira vez que viajei de avião foi por conta de uma matéria. A companhia aérea que estreava aeronave convidou o jornal para conhecê-la através de um voo bate-volta Petrolina-Salvador-Petrolina. Eu me escalei, no impulso. Era uma boa oportunidade de driblar o medo, já que não iria poder demonstrá-lo tão intensamente. Foram dias de agonia até a hora da viagem. Pesadelos, suor frio, tinha certeza de que sofreria um infarto, que meu corpo não aguentaria a pressão nem a altitude (sim, eu sabia que o avião oferecia todas as condições para meu corpo não se decompor, que era bem mais fácil sofrer um acidente atravessando a rua na volta pra casa).


Quando me percebi estava sentada na janela, inquieta, olhando a pista de decolagem. E logo via a cidade se apequenando, o rio tornando-se um fio contornando as plantações verdinhas, a caatinga esturricada. Logo ultrapassava as nuvens, com o coração acelerado. Parece bobagem, mas percebi que a claustrofobia era pequena diante da metáfora que se desenhava diante de mim. Meu medo maior era de ganhar asas e ir para além de onde meus pés não conseguiriam me levar. Algo que, no fundo, eu sempre quis, mas não conseguia (consigo) lidar muito bem. Eu, que sempre fui sonhadora ao extremo, temia tirar os pés do chão.  

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