Ocean Sprout / Vladimir Kush |
“Você era muito surrealista”. Era. Sou. A frase foi de um
amigo e mexeu comigo, despertou o “surreal” adormecido em meus inúmeros descaminhos
que me tornou mais olhos para fora e pé no chão. Como é chato isso. Logo eu,
diversos mundos em uma criatura que às vezes não quer se ser, milhões de
histórias tecidas imaginariamente, madrugada adentro, a pé pelas ruas. Histórias
que nunca conheceram a cor do papel e se perderam ao longo de estradas que não
se imagina.
“Ainda sou. Só não pratico”, respondi de imediato. “A
gente deixa coisas de lado que não deveria”. Deixa mesmo e realmente não
deveria. É difícil admitir que sufocamos certas disposições, seja lá por quais
motivos, muitos deles nem tão fortes assim. E que nos acovardamos diante de
possibilidades. E nos acomodamos com os degraus já subidos sem ter coragem de
olhar para cima e ver que a escada nem bem começou. Vivemos por demais o real e
vamos deixando para lá o que é invisível aos olhos, mas perceptível ao inconsciente, não somos os detalhes, esquecemos as sensações. Deixamos de ouvir e lá se vão as abstrações, mãos
dadas com as oportunidades ignoradas.
Felizmente ainda é tempo de dar ouvidos a todo esse
surrealismo.
Boto fé.
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