segunda-feira, 12 de maio de 2014

A bordo - relatos de uma viajante em início de estrada (Parte II)

Foto: Inês Guimarães

Durante o tempo em que não vivi novas experiências aéreas, muita coisa aconteceu em meu mundo por demais fixado nas superfícies. Dias de angústia por problemas que não sabia sequer identificar. Um pânico que varria as boas sensações e me dava a certeza de morte precoce.

A leitura, por vezes deixada de lado, voltava a ser a companheira que jamais deveria ter abandonado. E em uma dessas incursões pelas palavras alheias, uma reportagem me surgia com uma mensagem difícil de ignorar, impossível de esquecer. A história de dona Ailce, contada de forma magistral por uma jornalista, para mim, até então, pouco conhecida.

De curiosidade à admiração, a história de vida através do texto de Eliane Brum me fazia ver o quanto eu estava perdendo tempo. O quanto deixava o “depois” adiar planos, que se acumulavam dia após dia para um futuro que nem ao menos se sabe se vai acontecer. Considerações até óbvias demais, mas que fazemos questão de ignorar e fingir a plenitude quase impossível de existir.

Entre a minha história e a vida de Ailce, que, em sua aposentaria, finalmente ganharia asas, e terminou descobrindo um câncer que a levaria ao fim, existia um abismo. Eu, ainda com 27 anos, sem filhos, talvez ainda com tempo de descobrir, inventar, arriscar, tentar, errar, se arrepender, percebia que era hora de sair da inércia e enfrentar os medos, por maiores que eles fossem (e insistam em ser até hoje), uma luta diária contra mim, por mim. Li e reli a reportagem, com lágrimas nos olhos, o coração palpitando forte.

Meses antes, uma professora amiga, que havia se mudado para o Rio de Janeiro para o doutorado, convidava para passar um feriado por lá. Nunca havia saído do Nordeste. Tinha medo de distâncias. Imaginar os quilômetros que se desenhavam no mapa imaginário já me desencorajavam. Assim como uma série de outras questões que não convém serem ditas no momento.

No ímpeto, minimizei a página com a reportagem e fui para o site de uma companhia aérea. Salvador-Rio de Janeiro, 30 de maio de 2013. Ninguém tinha ideia do que entrar naquele avião significaria para mim.    

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