Um dia ali foi caminho de barco. Água que passava correndo
trazendo e levando notícias, deixando sentimentos. Um dia ali foi morada de
peixe grande, que tornava ainda mais rica a vida de quem dele se alimentava.
Rio que em suas curvas desenhou estradas, encorajou o homem
a fincar raízes, mostrou que viver era serpentear a sua liberdade por entre
obstáculos e se lançar de peito aberto sobre o mar. Sempre corrente, vivo,
soberano. Esse tempo não é distante, mas pode tornar-se apenas lembrança,
cantada pela saudade e pela realidade que abate dia a dia o Velho Chico.
Há menos de um ano, o ponto mostrado pela fotografia acima
era ancoradouro das barcas que fazem a travessia Juazeiro-Petrolina, hoje
tomado pelas baronesas que se espalham rio a fora, sufocando, indicando que a
sujeira humana aos poucos mata o que se tem de mais precioso.
Há cerca de cinco anos, o local onde se deu a tentativa de
construção de uma estrutura para ancoragem das embarcações era coberto pela
água, que, com as chuvas chegava a beirar a orla das cidades. Hoje, o volume do
rio baixa diariamente, apequenando as possibilidades, apagando-se
paradoxalmente para alimentar a energia elétrica.
O rio, em alguns lugares, já não canta.
Explorado para além de sua capacidade, resiste, minguado, choroso, clamando
para que o salvem de sua morte anunciada.