terça-feira, 7 de abril de 2015

Recomeço

Eu tinha quinze anos quando me senti livre pela primeira vez. Era uma noite de outubro e lembro que fiquei horas no quarto, sozinha, a música alta eternizando o momento. Vinha de dias difíceis e aquilo soou como uma recompensa. Deixei a madrugada chegar lenta, tentando prender aquela sensação em mim, sem saber que seria impossível esquecê-la.

Somos responsáveis por nossas escolhas, pelos caminhos que temos que seguir. Naquele dia eu tinha consciência disso. Como hoje. Anos depois consigo reencontrar aquela mesma garota sonhadora que lutava contra tanto de si mesma para manter-se viva. Que lutava por tanto de si mesma para viver seu próprio caminho.

Coragem nunca foi uma palavra frequente em meu vocabulário. Até perceber que tinha deixado aquela garota morrer justamente por falta dela, a tal coragem. Viver é muito mais que cumprir protocolo, seguir a cartilha que se determinou sabe-se lá como e por quem. Eu não quero cumprir roteiro que nem sequer tive participação. Não vale a pena. 

Já há algum tempo buscava essa coragem para tirar de mim o que tanto me maltratava. Foram dias, como dizia minha avó, de uma "coisa ruim dentro de mim", que não conseguia fazer entender, que médico nenhum conseguia explicar. Coração acelerado, como se quisesse se libertar de mim. "Você está bem, é coisa de sua cabeça". Não, não é. Nada que te faça sentir mal é simplesmente "coisa de sua cabeça". É algo real e deve ser combatido, enfrentado, evitado.

Eu sempre fui muito os outros. O que vão pensar, o que vão dizer, o que vão achar. Mas a verdade é que, nesse período, apesar de todo o apoio e boa vontade de quem esperava aprovação, ninguém conseguiu despertar essa coragem. Ela dependia unicamente de mim, assim como as escolhas, as consequências. A "coisa ruim" era minha e ninguém jamais iria compreendê-la.

Voltei a sentir a garota tentando voltar a respirar. Espero não deixá-la ir embora novamente, que sempre esteja comigo me ensinando a ter coragem e a aprendendo a recomeçar. Não é fácil. Mas pior é acordar com vontade de chorar por ter se anulado diante de suas próprias fraquezas.

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