segunda-feira, 18 de abril de 2016

O dia seguinte

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Eram sorrisos de canto de rosto. Eram gargalhadas. Era a voz acuada que tentava se fazer ouvir em meio a urros de prazer e satisfação. Foi o cinismo estampado no rosto. A hipocrisia desnuda para milhões em rede nacional. Foi a propina, o dinheiro, o poder. E se seguiram os “sins”, tão torcidos, tão queridos por muitos que têm o xingamento como único argumento. Era “pelo fim da oligarquia do PT”. Ou pelo futuro dos filhos, dos netos, pelos 40 anos de mandato. E pela continuidade das famílias coronelescas que se perpetuam mandando, enriquecendo, mentindo, manipulando, subtraindo, devastando, destruindo. Mas que seguem impunes. Porque são a lei, porque são a justiça. Porque são injustos.

Era a ironia, a mudança de opinião sem qualquer opinião formada. Era a conveniência. Se seguia um a um, em nome da mulher, em nome do pai ladrão, em nome de um presidente réu, comprovadamente corrupto. Mas era contra a corrupção. Contra todas essas pessoas que se encheram de direitos alimentados pelo Bolsa Família. Foi a Bahia, quase uma exceção, execrada nas redes sociais que destilaram seus preconceitos anonimamente, porque, como os deputados, reconhecem sua impunidade. Era pela igreja, igreja instituição, que não paga impostos, que rende dinheiro, que rende reconhecimento, que aliena, que prende, domina, intimida, convence e manda.

Era a falta de educação. Tudo em nome do bem estar do MEU povo brasileiro. “Meu”, “minha”, pronomes que deixavam claras as intenções. E as pedaladas foram virando coadjuvantes. E os decretos foram virando coadjuvantes. Como são desde o início, pretextos apenas para a realização de uma eleição indireta, tal qual lá naqueles tempos sombrios que um deputado desprezível fez questão de exaltar. Era a baixaria, a sem-vergonhice de pessoas eleitas com salários absurdos, com regalias desnecessárias, que pisam diariamente na Constituição. Que mataram ao menos uma parte do país de vergonha, ao ver todo aquele circo em nome de uma nação.

São as pessoas decepcionadas porque pensavam que a presidente já não estaria no cargo. São as pessoas torcendo sem sequer saber o porque. Porque dizem que um lado é o bom e o outro o mau. Que um lado é honesto e o outro corrupto. Que um lado é o mocinho e outro o bandido. Que na segunda-feira tudo estará no seu lugar como antes. Antes? Que antes?


Sim, estou triste. Mas não é tristeza simplesmente, é uma indignação que machuca. Hoje, depois deste dia 17 de abril, ainda custo acreditar que a política do país se resumiu a um maniqueísmo medieval, rezado e gritado aos quatro cantos em nome de Deus e da família. Estou triste e temerosa. Que o dia seguinte não seja longo demais.  

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